quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Crise hídrica e energética

No Brasil foram poucos os casos de sucesso no que se refere a ocupação urbana, Dom Pedro II nos legou a maior floresta urbana do mundo, mas poucos sabem que foi fruto de reflorestamento e o objetivo central era atender aos projetos do genial engenheiro André Pinto Rebouças, hoje esquecido dos brasileiros.

BRASIL!


Toda atividade humana é impactante, e o uso de água faz parte dela, é onde se tem competividade. Mas não deve ser a preocupação, pois até mesmo Israel exporta alimentos e os produz em escala.

E mesmo as ervas daninhas consomem água. Este está longe de ser um problema. O problema está no consumo humano concentrado, como nos grandes centros, pois os impactos estão dada dia mais distantes. E temos também o consumo de energia, boa parte perdida na transmissão, mas na idiotia brasileira isso não é discutido. As indústrias eletro-intensivas deveria estar instaladas próximas a geração, no caso no Paraná, na costa Oeste e ao longo do Rio Iguaçu. E igualmente se desconsidera soluções inteligentes como a ENEREDE do Engenheiro Thomas Fendel (www.fendel.com.br).

Crise Hídrica ou incompetência no planejamento urbano e preservação dos mananciais?

Gerhard Erich Boehme
boehme@globo.com

O Brasil se destaca pela violência crescente, tivemos devido à violência mais de 200 mil mortes por ano, isso nos últimos três anos. E o número é crescente, com redução apenas em São Paulo e no Paraná.

E qual a principal causa? A discriminação espacial, também conhecida como segregação urbana.

E como ela ocorreu? Foi a soma de efeitos perversos da lei, a começar as leis no campo, que tornaram as manutenção das vilas rurais palco de insegurança jurídica. Não restou outra alternativa aos fazendeiros, pecuaristas e sitiantes tirarem os seus trabalhadores de suas propriedades. Ampliou-se o contingente de boias-frias errantes e intensificou-se a mecanização, assim como por culturas que possam ser mecanizadas com maior facilidade. Passou pelos efeitos da lei do inquilinato, que somado ao rigor tributário, na realidade bitributação, sobre os que viviam do aluguel, ou, como uma forma de aposentadoria, planejavam viver do aluguel. O investimento na construção civil passou a ser de curto prazo. E chagamos a outro efeito perverso da lei, agora das domésticas, não apenas sobre as domésticas que não mais residem nos seus empregos, mas  sobre os caseiros, que também levaram a insegurança jurídica para dentro das pequenas propriedades no campo, nas praias e nas montanhas. Muitos estão perdendo seus empregos e inchando grandes centros ou ampliando a discriminação espacial. E a estes efeitos se soma a forma obtusa de se planejar o crescimento das cidades, sem considerar os efeitos positivos da especulação imobiliária, que levava a se investir em propriedades maiores, normalmente terrenos de mais de 800 m². E estes são condição essencial para qualidade de vida.

A idiotice tomou conta do Brasil, urbanistas como o genial Engenheiro e Arquiteto Jaime Lerner, passaram a ser desconsiderados, o modelo, pautado no populismo passou a ser o dos projetos no melhor estilo do Programa Ninha Casa, Minha Vida, Minha Cidade de Deus. E com eles toda a pressão sobre a ocupação desordenada do solo, ampliando-se os efeitos a impermeabilidade do solo e da poluição. E o mais grave, passamos a incubar a violência em escala exponencial. O planejamento urbano é agora de curto prazo, o objetivo são as próximas eleições.

Que se dane a violência! Que se dane a baixa qualidade de vida! Que se dane o meio-ambiente!

A discriminação espacial, fruto do descaso público e da falta de compromisso com planos diretores e que é, seguramente, após a falta de educação fundamental de qualidade, a principal causa da escalada de violência no Brasil, ainda mais agora, ao sabor de programas populistas e irresponsáveis como o “Minha casa, Minha vida”. Os despejados acabaram migrando para os morros próximos, inclusive o Morro da Favella (hoje Favela da Providência), dando origem à primeira favela brasileira (e à própria expressão “favela”).

O resultado desta discriminação espacial produziu somente o Rio de Janeiro as suas atuais quase 1.000 favelas e urbanizações populares, estas pautadas pela discriminação espacial, a exemplo da “Cidade de Deus”, a ausência do poder público é uma constante, são lugares onde as polícias não entram ou não se fazem presente. É o estado ausente onde deveria atuar.

A discriminação espacial, com seus conjuntos de casas populares, nestes casos é mais grave, pois geram a violência por uma série de razões, dentre as quais destaco:

1. não permitem que as crianças tenham espaço para brincar sob os olhos dos pais ou responsáveis, já que em tenra idade são “expulsas” para as ruas, com todo tipo de influência negativa; fazendo com que a educação não venha de pessoas responsáveis, mas de oportunistas que se apropriam de nossas crianças para iniciá-las na criminalidade ou em atividades sexuais;
2. as famílias não possuem condições, em seu espaço físico, de exercer uma atividade econômica, como uma oficina, um atelier, etc., nem hoje e muito menos no futuro, assim destruindo qualquer iniciativa de voltada ao empreendedorismo;
3. as famílias, impossibilitadas pela área disponibilizada, não podem ampliar as suas construções de forma que tenham uma vida mais digna e que acompanhe o seu crescimento natural, com a chegada dos filhos ou mesmo a vinda de pais ou parentes em idade mais avançada;
4. as famílias ficam impossibilitadas de terem uma complementação da alimentação, através de árvores frutíferas, hortas ou criação de pequenos animais (galinhas, codornas, etc.;
5. as famílias, devido a irracional ocupação dos espaços, ficam privadas de sua intimidade;
6. as famílias ficam impossibilitadas de ampliarem as suas residências, conferindo a elas mais conforto, qualidade de vida e praticidade;
7. as famílias ficam impossibilitadas de investirem suas poupanças, tempo e recursos em suas residências, possibilitando o aumento natural do valor de seu patrimônio;
8. as famílias passam a ocupar o espaço sem preocupações com o ambiente que as cercam, criando e agravando os impactos ambientais e deteriorando o espaço urbano.

Minha casa, Minha vida é um estelionato eleitoral, reforça a cultura da lombada com suas cidades de deus:

"Cidade de Deus, o berço da criminalidade institucionalizada no Brasil foi construída pela COHAB e financiada pelo BNH, a Cidade de Deus foi construída pelos governadores do Estado da Guanabara de 1965 até 1970, idealizado pelo populista da extrema direita, Carlos Lacerda, cassado na Contrarrevolução de 1964, e concluído pelo então governador Negrão de Lima entre os anos 1968 e 1970.
Manteve-se a discriminação espacial, que antes os confinavam em favelas como Praia do Pinto, Parque da Gávea, Ilha das Dragas, Parque do Leblon, Catacumba e Rocinha. Atravessada pelo Rio Grande e seu afluente Estiva, a Cidade de Deus passou a ter um crescimento interno desordenado, observando-se um processo de favelização ao longo desses canais.

Junto ao conjunto surgiram as comunidades do Muquiço, Santa Efigênia, travessa Efraim, Rocinha II e Jardim do Amanhã II, além de mais discriminação espacial institucionalizada, com os novos conjuntos habitacionais como o Vila Nova Cruzada e o Jardim do Amanhã. Em 1997, com a inauguração da "Linha Amarela", a Cidade de Deus seria seccionada: de um lado os Conjuntos Margarida, Gabinal etc e, do outro, o restante das antigas glebas, as duas partes interligadas por passarelas. A vida no bairro inspirou o filme brasileiro "Cidade de Deus", baseado no romance homônimo de Paulo Lins, com roteiro de Bráulio Mantovani, dirigido por Fernando Meirelles. Lançado em 2002 no Brasil e, posteriormente, no exterior, o filme teve enorme sucesso, recebendo inúmeros prêmios e indicações. Infelizmente não trouxe à reflexão dos brasileiros, hoje pocotizados, como bem nos lembra Luciano Pires (www.lucianopires.com.br) em seu bestseller, para a questão da discriminação espacial no Brasil, decorrente de falta de políticas públicas consistentes, como Plano Diretor e Agenda 21 Local."

E este modelo não se sustenta, pois a cada dia mais se necessita buscar água mais longe. E vale lembrarmos que no Brasil foram poucos os casos de sucesso no que se refere a ocupação urbana, Dom Pedro II nos legou a maior floresta urbana do mundo, mas poucos sabem que foi fruto de reflorestamento e o objetivo central era atender aos projetos do genial engenheiro André Pinto Rebouças, hoje esquecido dos brasileiros. O segundo é mais recente e muito se deve ao médico paranaense que foi Prefeito de Extrema/MG. Extrema passou a ser fornecedora de água para a Capital paulista. Mas poucos reconheceram a competência do Dr.  Sebastião Antônio. Camargo Rossi. Se o Brasil fosse um país sério, com profissionais que discutem problemas hídricos com propriedade, o modelo dele  seria repetido Brasil afora. Mas ignorância predomina, começa com os que ocupam o Palácio do Planalto e o Palácio do Alvorada, quando não a Granja do, de onde sai, Torto.

Este modelo não se sustenta, pouco se investe na recomposição da matas ciliares, principalmente em São Paulo, basta ver o entorno dos reservatórios. A quase totalidade ocupada por um esquema de privilégios, onde o poder público fecha os olhos para os passivos ambientais, em especial as casas de luxo com suas lanchas à porta. Este esquema sangra os reservatórios de duas maneiras, retirando a cobertura vegetal e consumindo parte significativa da água.

E com a “crise hídrica” outras duas idiotices tomaram conta dos brasileiros, não se questiona em investir em gestão, para que se reduza o desperdício de água, como o faz a SANEPAR e poucas concessionarias municipais, isto mesmo, municipais, pois a concessão é municipal, muito embora as empresas, fruto de um modelo imposto durante o regime militar, são empresas estaduais. A outra é chamarmos o VOLUME VIVO, de volume morto. É nesta reserva, não técnica, mas ambiental que se refugiaram muitos peixe e outros animais, muitos em extinção, e os ambientalistas, de carteirinha, ou subvencionados com recursos públicos calaram a boca ou estão rasgando o diploma.

Pior é vermos investimentos que sustentam este modelo cruel, que não apenas gera a discriminação espacial, como alimenta a violência. O Brasil necessita crescer para o interior. A concentração urbana, com estas aberrações jurídicas, que tributa o aluguel, que joga os caseiros, com toda uma qualidade de vida, para olho a rua, e de lá para os grandes centros.

Parece-me que falta inteligência. Se há uma relação de causa e efeito, temos que atuar não apenas nos efeitos, estes exigem ações emergenciais, mas temos que atuar no médio e longo prazo. E mais importante, que se invista em gestão, pois a soma de algumas letrinhas pode elevar o nosso PIB com facilidade em mais de 20%, isso mesmo, podemos ter um crescimento de no mínimo 1/5 em poucos anos se investirmos na combinação 3R + 8S. E quem sabe até mesmo fazer com que sobre água.  É o básico da gestão ambiental somado ao básico da gestão da qualidade necessitam ser universalizados. Tal como escrever o próprio nome, devem ser dominados por todos os brasileiros.

Gerhard Erich Boehme – Professor, Consultor, Auditor e Perito Criminal
Engenheiro Químico (UFRJ), Administrador (UFPR), Especialista em Segurança e Saúde do Trabalho, Especialista em Engenharia de Processos, Especialista em Engenharia da Qualidade.